1 de março de 2010


álbum de família.
« je ne pourrais donc, dans leur forme passée (ici présente) écrire de nouvelles mythologies ». Roland Barthes, 1970.

merci monsieur, je prends le relai.

moi ? eu quem, em amarelo, arquivista ingênuo, gozando só de pensar em pegar Bergson em flagrante delito em lhe dizer ah bon ? il n'y a pas de registre, il n'y a pas de tiroir, il n'y a pas? tiens, je t’enregistre, putain !

SOCRATE : « voici donc mon idée ingénue. intrigué par cet objet dont je n’arrivais pas à connaître la nature, je tentai d’échapper à l’image agaçante de ma trouvaille. comment s’y prendre, sinon par le détour d’un agrandissement de la difficulté même ?

après tout, me disais-je, le même embarras qui m’est proposé par cet objet trouvé se peut concevoir au sujet d’un objet connu. suppose donc que je considère une chose très familière, comme une maison [une structure, une ville, une famille]; ne sachant à quoi elle peut servir ni même si elle de quelque usage à quelqu’un ; et n’étant d’ailleurs, renseigné par personne, il faudrait bien que j’imagine le moyen d'apaiser [insouciance] mon esprit à son sujet.

PHEDRE : « et qu’est-ce que tu as imaginé ? »


BBC radio : « radio - paris ment, radio - paris est allemand ! »

SOCRATE : « cherchant, trouvant, perdant et retrouvant le moyen de discerner ce qui est produit par la nature, de ce qui est produit par les hommes, je restai quelque temps à la même place [meu quarto, o meu cubo], l’œil hésitant au milieu de plusieurs lumières ; puis je me suis mis à marcher très rapidement ver l’intérieur des terres, comme quelqu’un en qui les pensées, après une longue agitation dans tous les sens, semble enfin s’orienter ; et se composer dans une seule idée, engendrant du même coup pour son corps, une décision de mouvement bien déterminé et une allure résolue… :

« exagérer, voilà l’arme »,
anonyme, mai '68.

PHEDRE : « je sens cela, j’ai toujours admiré que l’idée qui survient, fût-elle la plus abstraite au monde [Brigitte Bardot, le mythe], vous donne des ailes, et vous mêne n’importe où [pologne, paris, rio]. on s’arrête, puis on repart, voilà ce qui est penser ! » Paul Valery, 1921.

[épilogue : en 1940, lorsque l'Italie de Mussolini pose un ultimatum à la Grèce, Ioannis Metaxas, son Premier ministre répond avec le simple mot « Okhi ! » (« non ! »). encore en 1979, Georges Marchais, secrétaire général du PCF, dans le même esprit insouciant, affirmait (ou pas) : « le bilan des pays communistes reste globalement positif »].

você vê o drama, vocês vêem, o drama adolescente : toda essa coisa que eu tinha de fazer, é patético ! é patético ! você sente, vocês sentem, mas é isso, é radicalmente isso, esse ano perdido, tudo isso, o estudo obstinado dos componentes da máquina, da minha implicação pessoal em toda essa história, a dissecção torta das estruturações e configurações possíveis da crueldade e da omissão, no rio de janeiro, na polônia, em paris, do silêncio absconso de que sou capaz :

o que leva um sujeito a disparar o gatilho senão a sua própria inocência ? não, esse registro é meu primeiro passo.

28 de fevereiro de 2010

'un mythe c'est abstrait,

et moi je ne suis pas abstraite'.

[Brigitte Anne-Marie Bardot].

bam ! My dad’s dead ! eu tenho a arma no limite da subjetividade, eu tenho aobjetiva e vou disparar. você me vê, mamãe, o dedo no gatilho, disparando contra o meu próprio pai ? repetindo o gesto, o mito fundador ? recomeçando toda a história do zero ? — não vê ? não, eu não quero dizer que todo esse silêncio entre nós seja feito de reticências e não-ditos, de histórias que nunca nos contamos mas que sempre estiveram aí, como fantasmas, como traumas absolutos de quem viveu o que ninguém devia ter vivido, a tortura, ahumilhação, o frio insuportável. o esquecimento. é muito isso, mas não só. você sabe : ninguém sabe. de nada. eu nunca soube de nada que não acabasse por tomar aquelas velhas formas narrativas, opacas e apressadas, de relatos surdos e mudos, de lembranças fugidias.

vous voici [1970. cenário : Rio de Janeiro, praia de Copacabana. evento : encontro familiar]

dad : “penso que com a prisão de algumas pessoas, eu temia que meu endereço fosse conhecido da polícia e passei a evitar o Leme. lembro de uma vez ter encontrado por acaso papai e mamãe passeando no calçadão de Copacabana. a imagem que eu tenho é que eles estavam muito bem (e “jovens”) e para mim o reencontro foi uma alegria inédita. meu pai tinha 65 anos e minha mãe 55. depois disso, só os encontraria em São Paulo, no Presídio Tiradentes”.

bam ! My dad’s dead ! porque eu posso. calar ou dizer,

me

voici

:

mãe, você me repete : você precisa matar seu pai, você precisa matar seu pai. não. está fora de questão, sentem e conversem, os dois juntos, tantos anos depois. sobre mim, sobre vocês.
façam um blog, que sei eu, uma máquina de falar.
sobre essas histórias engasgadas pelas tantas anistias, armistícios, interditos, e doenças degenerativas a que nos acostumamos. mãe, eu tenho a objetiva no limite da subjetividade, eu tenho a arma e não vou disparar. ora, você me pergunta : como não ? por que não ? que história é essa ? ora, mamãe, porque não é mais surpresa, a violência, o silêncio, o tédio, o medo, os anos '40, os anos '60, é a nossa história, eu sei, coisas da experência [a inocência ! a inocência !]. porque posso sentir toda essa memória clandestina, essa marginália que vocês devem ter vivido com seus pais ha tanto tempo, como se inscrita na minha própria vida secreta [a adolescência ! a adolescência !]. porque sinto poder tocá-la dos meus dedos brancos, é só meter a mão pelo forro do meu bolso de menino reservado [oh, shhht !] e sabê-la exatamente onde estranhamente sempre esteve. porque sinto poder acariciá-la ao meu prazer, sentir sua textura específica, seu peso, sua profundidade. porque sinto que poderia quase ler meu nome completo gravado [em alemão, letras góticas] numa bala em seu tambor :
você vê, Mãe ? você me vê ? disparando à queima roupa ? "le mythe est une parole", Roland Barthes, 1958.

blow

up !

tiens, te voici : n'est-ce pas le paradoxe du souci ?

« n’avais-je pas de quoi m’occuper plus utilement, après ce que je venais d’entendre ? le fait est que je ne commençais pas encore à prendre cette affaire au sérieux. et j’en suis d’autant plus étonné qu’une telle insouciance n’était pas de mon caractère [você calcula o quanto isso é verdade, não ?]. ou était-ce afin de me ménager encore quelques instants de calme qu’instinctivement j’évitais de réfléchir ? », Samuel Beckett, 1951.

"lucía, assim que nos despedimos naquela esquina da lagoa rodrigo de freitas liguei para a Mariana. ela não atendeu, por isso lhe enviei um email explicando que tinha ligado e que queria muito vê-la enquanto estivesse no rio. [terça-feira, 5 de janeiro de 2010, 13:49:12] não tem conteúdo, é só um convite à conversa. não foi respondido. tudo bem, cada coisa a seu tempo. quanto ao nosso encontro, ele foi fundamental porque não teve a menor importância. não tenho dúvida quanto a isso. um grande beijo, muito bom falar contigo, mesmo". dani.
[nous voici, donc, un an après ; or vous le savez, sûrement, « le changement d’objet ne fait pas forcément disparaître, bien loin de là, l’objet sexuel — l’objet sexuel accentué comme tel, peut venir au jour dans la sublimation. le jeu sexuel le plus cru peut-être l’objet d’une poésie, sans que celle-ci en perde pour autant une visée sublimante » Jacques Lacan, 1959-60].
"dani, faz um tempo me ocorreu que se a gente vai ter algum tipo de relação, ela não pode ser pacífica. enquanto houver negação do barulho, do que não se reduz ao diálogo, ao entendimento, à bandeira branca, todos os nossos encontros parecerão falsos. só o desentendimento pode fazer jus ao que fomos. a solução não é procurar a calmaria, mas lidar com o desconforto. ele é a possibilidade do nosso encontro. [terça-feira, 6 de janeiro de 2009 1:54:30] impossível reinventar o nosso mundo, a sua impenetrabilidade foi uma conversão súbita e irreversível. amei demais, para além da conta, e fui amada. o resto é exegese. é ?" luiza.

ora, fico cá pensando [o menino é um filósofo !], sozinho em meu quarto [é uma alma solitária !], não é essa a mesma condição, do amor e da história ? a ponderação minuciosa do silêncio das coisas, do nosso próprio silêncio, da violência estrutural dos homens, da nossa própria violência ? a insistência quase mecânica sobre as pequenas lacunas do discurso, sobre as nossas próprias lacunas ? a consciência aguda da reversibilidade das relações, das nossas próprias relações ? da inocência sem limites de um (suposto) amor puro e da violência sem limites da (alegada) inocência ?

mas é demasiado abstrato : não seria isso então, isso de contar ? isso de narrar ? isso de mostrar ? de aprender à mostrar do dedo, isso de querer abrir os olhos, de se abrir ao prazer de ver e ser visto, isso de se poder dizer, daqui, mas pra todo mundo

voici ! te voici, me voici, vous voici, nous voici !

pai, a gente toda se ama, trai, se distrai, dança, se entedia, foge, constrói, muda, espera, é torturada, tortura, nasce, morre, no pau de arara, na geladeira, nos porões da ditadura, nos campos de concentração, tem ganas de pegar numa arma e atirar no primeiro com que cruzar na rua, de atirar contra a própria testa. e pronto, o ultimo buraco. mas é a vida que segue, e o mesmo Serge Gainsbourg, filhinho complexado de judeus imigrantes russos, há de querer um dia se prendre un flingue ('58) na merda de uma fita para scopitone rodada no metrô parisiense e no outro ('67) comer a Brigitte Bardot, e dizer :


"j'aime les femmes en tant qu'objet, les belle femmes, les mannequins, les modèles. c'est le peintre qui revient en moi, je ne leur dit jamais je t'aime".

[uma outra forma de amor, malgré tout].

eh voilà, mon gars : depuis, les villes ouvertes se renferment dans les trous de leurs métropolitains, et hop, c’est l’ennui. on jette pas mal de morts dans pas mal de trous, par ci par là, et du coup, c’est l’oubli. depuis, c'est toute l'Europe qui revient à la maison, à pied, en bus, en train, j’sais pas moi, mais juste à temps de se mettre dans quelqu’autre trou, à l'abri de la terreur atomique, et nécessairement, là, c’est la peur.

[ou alors on change tout, vite, de nom, d’adresse, de foi, d’idéologie, on se casse quoi, ailleurs, mais vraiment ailleurs, tout en espérant, — au fond de son cœur et de sa valise, tu sais, c’est pareil —, de ne pas avoir à se retrouver, de l’autre côté du monde, face aux mêmes merdes qu’on a dû fuire et faire pour être encore , dans ce train, dans ce bateau, dans ce bus].

EXTRA, EXTRA : voici, messieurs dames, la vie qui suit, l’invention de l’ennui ! Paris sans les nazis, oh, que c’est chiant…
mais non, ni radio ni cinema, l'histoire à venir s'affichera sur un Sco-pi-to-ne !


putain, un quoi ? pués este invento de la era del ócio no era más que una máquina de discos acompañados con una película de 16 mm y le propusieron grabar la primera cinta al hombre que había revolucionado la canción francesa. en el año 1958 se grabó, en la linea 3 del metro de Paris, a Serge Gainsbourg para dar imagen al tema le poinconneur des lilas, pour invalides changez à opera.
plano-sequência [duração : aproximadamente 3 anos]
voltar, esboço. "rentre où ?". "n'importe, en pologne, à paris, à rio". "t'es pas sérieux ! non. comment ? à pied ? en train ? en bus ? en bateau ?
[surement pas en metrô, surement pas à Paris : inutilisée en service commercial depuis 1939, la station porte des lilas - voie navette (reliant la ligne 3 à la 7) a été reconvertie en plateau de tournage pour la publicité et le cinéma, le tournage dans les stations du métro ouvertes au public étant trop contraignant, vu la trop courte interruption nocturne ne permettant pas leur utilisation].
à Paris depuis, on s'embête, à Paris depuis, on s'amuse, Paris c'est une fête !
— et après ?

oui, on nous a pris en photo, on est là, on est encore là, je veux dire, en voici l'indice. mais bon, à partir d'un moment donné, il faut se le dire, on se sait plus rien, personne sait plur rien, personne n'a plus rien vu, et du coup on se retrouve à bricoler des faux souvenirs, à manier des dates qu'on n'a pas vécu soi-même, en essayant de combler ces absences pénibles par nos propres vies, par nos propres récits. c'est bien entendu, impossible. c’est peut-être débile, c’est même désespéré, je vous entende déjà dire, mais bon, voici, c’est tout ce qu’on a :

une photo ne fait pas un album toute seule.

27 de fevereiro de 2010

1945
e ninguém sabe de nada.

em 5 de maio, o complexo de Gusen-Mauthausen é o último a ser libertado pelas tropas do 3º Exército dos Estados Unidos, que desarmam os policiais e se retirarm em seguida. alguns prisioneiros morrem ao ingerir a comida enlatada americana. embora a grande maioria dos oficiais SS já tivessem fugido, os cerca de 30 restantes do pessoal de apoio que ainda restavam foram linchados aí mesmo pelos prisioneiros.

[mitológica

: meu avô assistido a isso ? meu avô teria feito isso ?]

coordenadas : junho de 1940, meus avós deixam o campo provisório Stallag VII-A. [partem de Görlitz com a família, por trem, suponho].





e depois ?





de julho de 40 até 45 ? [vovó : Auschwitz-Birkenau, 4 invernos ? ]

de 45 até 48 ? [reencontram-se. onde ? quem está faltando ?]

de 48 até dezembro de 1985 ? [leme, rio de janeiro]


mardi 20 août, 1940, le premier train de la déportation part de la France.