de: | daniel chueke (danielchuekejablonski@hotmail.com) |
enviada: | domingo, 29.06.08 0:46:20 |
para: | luiza novaes (luiza_novaes@hotmail.com) |
31 de março de 2009
21 de março de 2009
Inconfessável n.1 engajamento — photoshop. [porque entre as confissões (em número de 3) e os inconfessáveis (número indeterminado) vai toda uma vida secreta, toda uma experiência insólita de museus e metrôs e monitores, todo um jogo de corpo entre trabalhos e fins de semana d’uma certa pesquisa em leituras e reflexos de um pensamento subterrâneo. mas é tudo tão lento, tudo tão longo]. statement político: tenho pensado em fotografia, uma reflexão fotográfica, do olho ao olho. não sobre fotografia, porque isso não me interessa de todo, todas essas coisas e lentes e ossos do oficio que se carrega consigo em caixas ou na jaqueta de repórter profissional. tenho, em fotografia, refletido como amador. em registros: de imagens, minhas, aí. que pudessem talvez fazer vibrar a reciprocidade visível do corpo e do mundo, de um lado ao outro da objetiva, no registro de uma coisa que tem em verdade, em fotografia, pouco de objetividade. são as imagens de uma crise da objetividade às que tenho tentado refletir por aí, portanto mais intuindo do que entendendo. crise que como tal, não pode ser reduzida à qualquer dado concreto que a tenha efetivamente déclanché. à simples contestação de reformas no sistema educativo francês, ou ao fato de E. ter saído de casa, sob o risco de não se levar à sério o que faz de uma crise uma crise, o estremecer do sentido, e o que aí, daí: o desabrochar de uma certa anarquia, d'um sentimento, da marca d'um não-saber absoluto nas ruas e nos cubos, absolutamente não teorizável como doutrina política. crise do tempo e do espaço do sentido assumida pessoalmente, como engajamento corporal.
05.03.09. Metrô cluny la Sorbonne: não tenho nada a declarar, sou um corpo contra o presente estado de coisas, intuição paradoxal da estrutura mesma da crise, de toda e qualquer crise, cultural, arquitetônica, econômica, social, política, filosófica, afetiva, todos esses nomes da mesma coisa. um certo movimento, um certo dada, um certo surrealismo, como falências do modelo do sentido. e não há qualquer acaso ou contradição exterior à própria lógica imposta pelas brechas da coisa, à essa intuição d'uma certa promiscuidade ontológica entre o meu desejo e o que acontece aí: E. estendido sobre a estrutura dialética da coisa, o chão sujo da estação: tese: não conheço, não sei o que é. antítese: conheço, sei o que é. síntese: conheço mas não sei mais o que é. porque é assim que corre a história do amor para mim: do trauma à trama.
20 de março de 2009
19 de março de 2009
17 de março de 2009
descrição n.2 14.03.09 café do Centre G. Pompidou. uma mulher / sentada no mesmo lugar onde eu escrevera ontem sobre a arquitetura do desejo / repousa a mão sobre um livro de capa dura / lê-se em letras brancas de cabeça para baixo / McCarthy / ela tem traços e língua do leste / seus quarenta anos cabelos castanho-escuros / franja / e duas crianças de mesma língua que chegam com cafés / com calma / ela guarda o livro na bolsa / como se nada / como se se tratasse afinal d’um livro nas mãos / não de tempo nem de espaço / não de uma arquitetura / não / os anus as bocetas os seios os tempos e as partes daquelas coisas vivas como mortas como cores sobrepostas todas elas aí n’uma sala de arquitetura movente / guardadas naquela bolsa / abrindo o espaço como tempo da dilatação de imagens e murmúrios de desejo / se reculant se rapprochant encore / guardados na bolsa / na estrutura dimensional aberta em profundidade pelo raio da obra / que nos faz levantar como um despertador o sol o beijo o seixo atirado como um tapa/ é constrangedor [time trap diz P.] / parce qu’en architecture vous voyez il faut circuler / les yeux la tête le corps non pas autour mais au long de ce qui n’est pas un objet mais un lieu [une chose comme lieu dit Martin. H.] / de double mouvance puisqu' / é preciso circular / porque a sala ela mesma não faz senão / contrair e relaxar no mesmo ritmo improvável daquele sem número de orifícios ensangüentados pulsando pelos meus olhos mais abertos nos feixes irregulares dos projéteis nas cores primárias e violentas daquelas verdades marcadas em movimento sobre um corpo no tempo projetadas ainda sobre / mim / é à tudo isso que se guarda numa bolsa / uma mãe / com a calma de quem guarda um livro / essa coisa sem tempo nem espaço / com a calma de quem recebe suas crianças no centro de arte moderna e contemporânea agora vazio do Centre G. Pompidou.
7 de março de 2009
[os olhos mais abertos, ou E. como fascínio projetivo-ortogonal]
descrição n.1: todos aqueles écrans multicolores aquelas máquinas e fios e mesas aquelas fotos e vídeos e slides todas estas formas e formatos e coisas e tipos de arquivos / disparando fora de qualquer ordem de tempo projetável projéteis de corpos em cores e fragmentos de tempos que não / vivi ou nunca nunca antes vi ou ouvi dobrar em qualquer canto do corpo nem gritar nem gemer e que não obstante aí / não obstante toda aquela nua e carne mutilada exposta aos então olhos mais abertos d’uma adolescência em franco atraso / digo e atesto en retard em 09’ sem aquela ironia de uns anos passados / os humores em vidro estilhaçado como o retard en verre rachado pelo tempo e acaso de Marcel D. através do qual não se pode senão ver a sala como lugar onde / lugar do corpo vítreo em fascinação expondo-se em abertura escandalosamente amadora à todos aquele anos em Projection Room 1971-2006 / os anus as bocetas os seios os tempos e as partes daquelas coisas vivas como mortas das quais sequer tenho memória senão como cores sobrepostas porque não / não eram coisas mas espasmos d'uma projeção espacial / as projeções do próprio espaço e suas n. dimensões como dilatação e contração temporal de um cubo de arquitetura movente / faisant ainsi [ par de courbures insensibles, profondes combinaisons du régulier et de l’irrégulier, des couleurs! les couleurs!] le mouvant spectateur (E.)/ docile à leur présence invisible / passer de vision en vision et de grands silences aux murmures de plaisir / à mesure qu'il s'avançait / se reculait et se rapprochait encore / et qu'il errait dans le rayon de l’œuvre / mû par elle et le jouet de la seule admiration — il faut [disait cet homme de Mégare, Eupalinos, arquiteto] que mon temple meuve les hommes comme les meut l’objet aimé.