Filho pródigo : — à quoi bon ? você diz, mas eu sei, Mãe, à quoi bon... então não se faça de sonsa, madama Tania Chueke, não se faça de desentendida ! porque você sabe, você sabe de tudo, foi você mesma quem me ensinou a ver a arquitetura, não o Bruno Zevi, ou o senhor Jeanneret ! a ver que o papel vegetal estendido sobre a sua mesa de trabalho nunca passou de uma abstração ! que em verdade nunca houve folha em branco ou terra virgem ! que nunca houve tal coisa como um primeiro traço ! como uma primeira idéia ! como a iluminação construtiva !
eu sei, você tem de saber ! é o seu trabalho ! a sua arte, o seu sustento ! então por que não me dizer ?
que toda primeira pedra estraçalha o corpo de alguém ! para me poupar, Mãe ? os mortos ! os mortos ! os desabrigados que colocamos para fora para acolher os nossos ! você queria que eu descobrisse por mim mesmo ? o peso da pá escavando a terra, do martelo fraturando os ossos do crânio ? as estruturas da violência ? das vigas, pliastras e pilares ? da casa, do cubo, do amor, da cidade de alguém ? a violência ? a violência ? é a minha ! é a minha também ! pronto,
você vê, Mãe ? você me vê ?
disparando à queima roupa ?
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