21 de abril de 2009

notes pour une petite histoire non chronologique de la critique d’art n.3, par E. reconheço abertamente carecer de dados positivos precisos acerca das condições climáticas da Rússia quando da exposição 0.10 (Zero-Dez), e por conseguinte, de meios estrita e rigorosamente objetivos para compará-las àquelas atravessadas pelos prisioneiros poloneses, naqueles meses de concentração, no Stalag VIII-A, Görlitz, na então Silésia (atualmente Zgorzelec, Polônia). não obstante, tentaria ainda esta colocação, de ordem evidentemente hipotética, a saber, que um frio quase insuportável é o mínimo que se pode dizer n'um caso como n'outro. o mínimo e o máximo. porque esse mínimo do discurso, esse ponto zero do sentido, essa linha de passagem do signo, se impõe à língua como o limite do sofrimento, do insuportável do discurso: como dizer a dor? - o insuportável como indescritível - a dor que se pode causar a um outro? é porque seria preciso conceber radicalmente, para além dos limites do sentido, o frio como verdade do tempo — a um só tempo, em Petrogrado em dezembro de 15’ e Görlitz em janeiro de 41’. ao que restaria pois, nesta vaga de crise da adolescidade e fora do quadro de qualquer objetividade situável, a tarefa de reunir os testemunhos da história, e escrevê-las aqui, as histórias, e o que se passa e se passou, se escreve e escreveu, até hoje sobre e sob esse certo feixe sem nome, e é ao que me resigno, eu, E., agora, mas como um começo de esperança — 

[arquivo.

n.1. o pintor Kasimir Severinovitch Malevich, nascido na Ucrânia (de pais poloneses), em carta traduzida para o inglês: everything was in motion. it was a time of great hopes, enthusiasm, optimism, Futurism and, of course, Revolution. you could even smell it in the cold Russian air. the end of the great century … the new age … huge and cold building at Marsovo Pole [Champ de mars] no. 7… the Last Futurist Exhibition 0,10 … no heating [...].

n.2 o escritor Ismar Tirelli Neto, em versão inacabada de seu primeiro romance — Juvenília, confiada à E. para leitura no fim de 07’: ítem 17. é em tempo, janeiro de 1941. Olivier Messiaen apresenta seu “Quatuor pour la Fin du Temps” para uma platéia de mais ou menos trezentas pessoas. são, em maioria, prisioneiros de guerra, como ele e os outros integrantes do quarteto. mas há oficiais presentes também. não há aquecimento, o frio é quase insuportável. ao piano (desafinado, teclas difíceis), o próprio Messiaen].

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