10 de dezembro de 2008

Do arquivo
: porque a coisa-tempo rói, incha, infla, contrai, revolve, liga, comprime, distende, dura. enfim, diz o filósofo aí que é coisa contínua, e que por isso mesmo o passado se mostra presente, que todo o sentido do tempo se dá n'um agora-todo-o-tempo. e estou de acordo, só porque eu sinto, o tempo. sinto-o mesmo demais, roendo, inchando, inflando, contraindo, ligando, comprimindo, distendendo - o meu corpo, esfacelado nesse ano em que me queimam os olhos essa continuidade de filósofo, esse progresso, esse sans cesse, esse indéfiniment, essas palavras que não vejo em parte alguma, senão

ao que registro a coisa e penso que,
faz sentido dizer: il n'y a pas de registre, il n'y a pas de tiroir, il n'y a pas/
quando,
1. as coisas estão bem, obrigado, quando o sentido do tempo se conserva n'um presente 1907.
2. se pensa n'um sentido do tempo que se conserva sozinho.
mas e 68? e 2008? como ficam esses traumas? como fica a história quando a pressão do tempo faz implodir os relógios? quando o presente se estraçalha na sua frente? quando a memória descarrila? quando a conservação sai do automático e o registro tem de ser feito manualmente? quanto a mim, dezembro 08, já não sei que sentido: nem que memória é essa que não é trabalho de memória, quando ela perde o sentido, nem que história é essa que não é narrativa, quando ela perde o fio da prosa. 
Quando se perde o sentido e se pede a memória. 
(pode ser que um tal arquivo não se faça n'uma gaveta, nem n'uma nem em muitas, 
eu, pensei n'um blogue).

4 comentários:

Anônimo disse...

leia Bergson primeiro, depois nós conversamos.

Víscera disse...

as inflexões sugeridas estão ótimas.

no hay otros paraísos que los paraísos perdidos. disse...

e esse presente que nao se cansa de parodiar o passado?
a parodia mais cruel, mais insensivel, sem um pinguinho de humanidade.

e eu, eu pensei em machado de assis.

"era a mesma situacao de barbacena; mas a vida, meu rico senhor, compoe-se rigorosamente de quatro ou cinco situacoes, que as circunstancias variam e multiplicam aos olhos."

Anônimo disse...

Uma vez, pensando num romance do outro, pensei no titulo: Paris nao tem sentido. A vibe ta maneira, hein?