30 de novembro de 2009

variação nº 1. Vemos um filme deitados nas espreguiçadeiras, o ano Passado em Marienbad, de Alain Resnais. Depois, telefonemas, decuplicam-se os presentes [a idéia da lista extensiva é quase irresistível], brotam das poças de vinho que os antecessores deixaram sobre a mesa. Estamos ouvindo aquele album da wanda sá, o wanda vagamente, gravado em ’64, o fino da bossa em pleno golpe militar. pensamos num movimento, na juventude, uma idéia. Alguém saca dum violão. talvez o Jan-Felipe.

nota para trilha sonora: alguma canção dos subterrâneos, de um album que nunca gravamos, digamos para maior comodidade tratar-se de o Pássaro pintado.

cantam : Lucía, Mariana, Fabio, Alice : você tem as cores do mundo em você, as cores / as cores da estrada em você / e você, é claro, Ismar, diz perto do fim : todo mundo ! meu belo pássaro pintado ! meu belo pássaro pintado !

la-ra-ra-ra / la-ra-ra-ra.

assistem : eu, Luiza, Felipe, Bruno, Karyn, Pedro, Gregório e talvez Antonio.

29 de novembro de 2009

frio em Paris. céu cinza, chapado, domingo.

1.5 nos manuscritos originais de 2007 de Juvenília, de Ismar Tirelli Neto, que me foram legitimamente destinados [caro, aí está, creio que 80 % do livro, quase certo] podemos distinguir com nitidez duas variações da seqüencia da cobertura de um amigo, que leio (— com certa margem de segurança, creio) da forma que segue : ilustrações episódicas e entrecortadas de um (ou mais) dos inúmeros encontros na cobertura que em verdade não é minha, mas da minha Mãe. o amigo em questão, sendo por filiação, eu, Daniel - mas não só eu !, o que traria então todo o brilho e a complexidade da coisa (— de meu ponto de vista, é claro).

eu ? há ! mas não só eu, todo mundo.
(chegar ? onde ?) eu só queria pensar essa coisa (mas sozinho ? eu, quem ?), e que se configura por ora na forma da seguinte curiosa equação :

no interior do conjunto Rio de Janeiro 2007-8-9 (Rj'3)
todo mundo (tm),
nós temos que

as pessoas falam (p), Daniel não fala (E.)

26 de novembro de 2009

e foi com ares de extra ! extra ! parem as rotativas, esqueçam os mortos nas favelas, os lesados no asfalto, a sem-vergonhice da administração publica e a indiferença dos intelectuais ! que a coisa toda circulou num Rio de Janeiro de 2008. e foi assim que, um dia antes de partir à Paraty [Lucía, eu parto, etc.] encontrar Felipe [vamos sim, nos vemos lá.] para rever as coisas à meio caminho Rio – São Paulo, a coisa chegou a mim, acompanhada de um sorriso conivente de chopp do baixo-gávea :

Gregório : — você avacalhou, hein, cara ? traiu sua namorada [Luiza] e saiu às escondidas com a melhor amiga dela [Lucía] !

— é ?

25 de novembro de 2009

caderno preto 2008. 26/11.

restaurant L'écritoire, place de la sorbonne. seria preciso pensar na passagem a partir da flexibilização da noção de "casa", já pensada com Ismar no "Projeto da casa" [argumento cinematográfico, colaboração datada de alguns meses antes], fnalizado, porèm recusado pelo Ministério da Cultura. é o caso de pedir a Ismar que me envie por email - se ainda o tiver, se ainda o guardar.

mesa. quarto. st. fargeau. dei para Luiza, num guardanapo, um desenho com o dizer : "3 anos atrás aqui no l'Écritoire" [onde havíamos jantado em viagem de amor à Paris]. ela guardou dentro de sua Crítica da Razão Prática.

criação do blog "l'insouciance - políticas do despreendimento". l'insouciance é a Aufhebung da ideologia.

22 de novembro de 2009

há 20 anos,



no dia 15 de novembro de 1989, ocorria o primeiro turno das primeiras eleições presidenciais no Brasil após o fim da ditadura militar (1964-1985). durante toda a década anterior, estudantes, intelectuais, religiosos, trabalhadores das fábricas e do campo, artistas, advogados, familiares de presos políticos e de desaparecidos políticos lutaram pela lei n° 6.683. Lula perderia para Collor no segundo turno, suspeito de ligação ideológica ao comunismo, ao tempo em que a Cortina de Ferro ruía no leste europeu e a União Soviética dava os primeiros sinais de exaustão. uma vez promulgada, ainda pelo presidente Figueiredo, em 28 de agosto de 1979, meu pai seria anistiado, bem como seus torturadores do DOI-CODI. desde então
NADA CONSTA.

narrador : é certo, tudo se dá num piscar de olhos. Fabio está dançando ao lado com outro. Daniel vira o rosto e está de cara com Lucía Santalices no sofá de um ex de Ismar, Rodrigo. o Rio de Janeiro é pequeno.

[efeito sonoro : bam ! seguido do som de pupilas ou persianas flap, flap !

câmera : luz, obscuridade, torna a luz].

coro (masculino e feminino) : bam ! mas quanto tempo pode caber nesse movimento de abertura, Daniel ? um ano ? um século ? toda a história da sua juventude ? da sua cidade ? da sua família ? mãe ? pai ? vamos lá, toda a história do ultimo século, todas estas exposições, o cubo-futurismo, o muro de Berlim, o medo, a tortura no corpo, o nazismo, a ditadura militar, a tensão nuclear, toda essa merda da história atravessando a sua vida de burguesinho de Ipanema ? quanto tempo, Daniel ? quanto tempo você levou para piscar esses seus malditos olhos estrábicos e perceber que bam ! você havia disparado o gatilho ? que o seu dedo branco e medroso escorrera então pela maquinaria de uma arma que você sequer jamais vira ?

Ismar Tirelli Neto é um escritor carioca, da novíssima geração. sem tempo para meias palavras : é o que vai restar de melhor. talvez não agora, talvez não ainda, mas não é mais uma aposta, senão uma questão de tempo. notificação : recebo de Ismar, um email, num domingo 21 de outubro de 2007 às 18:43:08 : caro, aí está, creio que 80 % do livro, quase certo. brigadaço, I. era então o seu primeiro livro, Juvenília. dois anos depois, não sei onde está com o projeto.

ele escreve, eu leio, e reproduzo em itálico :

A captura de Messiaen se dá em Verdun, maio de 1940.

19 de novembro de 2009

1.4 e num piscar de olhos bam ! você vê a merda que fez
o que não estava no roteiro, I.

Ainda no terraço de meu amigo, vez em quando projetam-se filmes. A máquina faz a fita rodar na parede do prédio ao lado, sentamos em tatames e espreguiçadeiras.
courbet - flaubert ?
Emma, le réalisme, c'est moi

notes pour une petite histoire non chronologique de la critique d’art n.4, par E. "M. Courbet est un réaliste, je suis un réaliste : puisque les critiques le disent, je les laisse dire. mais, à ma grande honte, j'avoue n'avoir jamais étudié le code qui contient les lois à l'aide desquelles il est permis au premier venu de produire des oeuvres réalistes." Champfleury, Du réalisme, Lettre à madame Sand, septembre 1855

[Au revoir, Monsieur Courbet !]

15 de novembro de 2009

1.3 a cegueira espacial. Type de machine : scanner mx 8000 phillips,
le 20.07.09.
o norte-americano Neil Armstrong pisa na lua. Daniel deita-se em Paris. os olhos cerrados. não é sua cama. seu pai, Silvio, e seus avós, Cecília e Pedro Jablonski, assistem tevê ou vão ao cinema no Rio de Janeiro. é o golpe militar no Brasil. Daniel espera a enfermeira aplicar-lhe o contraste. ele finca o estandarte americano. seu pai, ainda adolescente, indiferente, seus avós anticomunistas ferrenhos, entusiastas. [seu pai, 40 anos depois, admite : boas razões para isso]. Daniel teme pela sua visão. eles pela estabilidade política e econômica do novo pais. um grande passo para a humanidade. a máquina orbita em torno de seu crânio. o primeiro homem e comunista à ir ao espaço, Yuri Gagarin, corre o mundo à promover a tecnologia espacial de seu país. seu pai engaja-se pela causa proletária. ruptura familiar. prisões sucessivas. o herói soviético é recebido com festa no Brasil de Jânio Quadros. Pedro acompanha Silvio à delegacia num fusca com vidros escuros. vou junto ! são encapuzados pela policia militar brasileira. é condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Daniel levanta-se. aguarda o resultado do exame na sala de espera. scanner cerebral. é a segunda vez. pensa. a primeira em outro continente. um pequeno passo para o homem. a república das bananas brinca de terceiro reich. 20 anos depois. — é, em suma, o que Gagarin teria visto se não tivesse morrido num desastre de avião, nos arredores da cidade de Kirzhach, em 27 de Março de 1968.
em rosa Dacia, laranja estriado, vermelho sinal de trânsito, amarelo mitológico.

5. Le jaune, en peinture, « c'est le complément du violet » : les pigments jaunes absorbent toutes les longueurs d'onde de la lumière exceptées celles qui correspondent à la sensation jaune, qu'ils réfléchissent.

projeto de livro (de juventude) abortado : a agonia das cores.

notas:
do olho ao olho.

courbet – flaubert

mas isso era coisa de outra ordem de visibilidade do que aquela minha primitiva de cores cúbico-pastel da ironia defensiva

um frame de linguagem, um segundo mais concreto, mais palpável, que toda metáfora.

um sopro,

que aí está toda a vida de menina em exposição, afundando em amarelo, nessa posição significante, nesse único instante em que eu a olho, e sinto e toco: aí..

esse nu, esse quadro,

essas cores, esse frame, esse auto-retrato: Emma Bovary, c’est moi! aqui. a cor amarela movendo-se

11 de novembro de 2009

Le 9 novembre 1989, des milliers de protestataires ouvrirent une brèche dans le mur de Berlin, puissant symbole de la guerre froide en Europe. bien peu de témoins de cet événement auraient pu prédire la portée des changements que traverserait l’ex-bloc soviétique au cours de la décennie suivante. chacun de ces pays connut une crise économique parfois plus parfois moins grave. La fin du communisme libéra des tensions qui duraient depuis des décennies, sinon des siècles

Scuze pentru Dacia roz

Yo mancam, o ipostaza definitorie

Roxi priveste lumea prin ochelari, alta ipostaza definitorie

Ralu saraca zambeste


Delia.


— et en créa d'autres.

1.2 Ismar certa feita você me perguntou “do que você gosta, Daniel ?” estávamos no meu carro e eu lembro de ter respondido sem virar o rosto olhando fixo as luzes do trânsito contra o céu já escuro :

das cores


[não lembro se a Luiza estava no banco do carona]

3 de novembro de 2009

1.1 você diz tê-lo escutado, esse ultimo andamento, pela primeira vez numa
dessas coberturas de Ipanema.

a minha por sinal, rua Nascimento Silva, Rio de Janeiro, as gentes tendo indo embora, deixando latas de cerveja por toda parte.


Amanhece retórico, coisa que não se presta a nenhuma atenção, estrias alaranjadas no céu.